sábado, 23 de julho de 2011

The Fourth Portrait



Realizador: Chung Mong-Hung
País: Taiwan
Ano: 2010  
Elenco: Leon Dai, Hao Lei, King Shih-Chieh, Terri Kwan

O cinema de autor Taiwanês é tendencialmente mais discreto do que o seu homólogo da “terra principal”. Os realizadores da ilha democrática tornam-se certamente menos boémios sem nenhuma sharia política em cima de cabeça.

O retrato deste “the fourth portrait” é porém um olhar acusador que desafia a indiferença da Formosa perante as micro sociedades de miséria compostas pelos fugitivos da China continental. Para avaliar a sujidade humana nada melhor do que mergulhar a inocência imaculada de uma criança e tirar-lhe o retrato à saída.

Eu que esperava, pelo cartaz, uma versão taiwanesa do verão de Kikujiro estava muito enganado. Poucos são os alívios fantasistas para o pequeno Xiang.

Com 10 anos de idade, Xiang vê o seu pai morrer num hospital rural na maior indiferença. Deixado ao abandono, a criança foge a atenção dos adultos que não o procuram. Era sem contar com o rude mas generoso funcionário da escola que entrega o pequeno aos cuidados da “relaxada” assistência social. Entregado à mãe, uma prostituta casada com um feirante falido e violento, Xiang recorda o seu passado e o seu irmão misteriosamente desaparecido. Entre o seu crescimento escolar e a sua amizade com um rufia patético mas generoso, Xiang cresce e aproxima-se perigosamente de um segredo que ninguém parece querer recordar.

O discreto realizador Mong-Hong Chung assina aqui o seu segundo filme. Uma obra sincera e pessimista sobre a vivencia dos chineses na ilha que não assenta em nenhuma estrutura para além dos acasos da vida. Perante tanta sinceridade as críticas surgem dificilmente apesar de o filme não ser perfeito. Todos os actores brilham pela sua interpretação, com menção especial para o padrasto interpretado por Leon Dai e o seu monólogo paranormal. O pequeno Xiang, interpretado por Bi Xiao Hai (primeiro filme), é por vezes demasiado posto de lado perante os poderosos monólogos dos adultos que o rodeiam e acabamos por sentir falta da sua frescura. Talvez seja esse o castigo reservado para o espectador: Xiang não é o centro da sua vida e como tal não pode sempre ser o centro do filme.

Sofrendo de algumas lentidões, The Fourth Portrait é ainda assim um ensaio poderoso e pessimista: Recomenda-se.

Nota: 5/6

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