quinta-feira, 28 de julho de 2011

Villain (Akunin)



Realizador: Sang Il Lee
País: Japão
Ano: 2010
Elenco: Satoshi Tsumabuki, Eri Fukatsu, Masaki Okada, Hikari Mitsushima, Kirin Kiki, Akira Emoto, Sansei Shiom, iMansaku Ikeuchi, Ken Mitsuishi, Kimiko Yo, Hisashi Igawa…

Confesso ter há já alguns anos um certo preconceito em relação ao cinema japonês. Sem querer mexer agora na ferida (afinal só preciso de uma introdução) posso dizer que após um excelente 13 Assassins o cinema nipónico dá mais um passo para a nossa reconciliação com este fantástico “Villain”.

O filme cruza os destinos de várias personagens. Yuichi é um rapaz introvertido que vive numa pequena aldeia com a sua avó. Atormentado pelo seu complexo de inferioridade, o jovem percorre as estradas num bólido tunning e procura o amor em sites de encontro. É através da internet que o seu destino se cruza com o de Yoshino, uma rapariga obcecada pela vida urbana, que trabalha num emprego sem futuro e que procura satisfazer o seu apetite sexual prostituindo-se ocasionalmente através dos seus encontros online. Yoshino apenas sonha com um rapaz: O rico, belo e popular Masuo. O rapaz de ouro é na realidade um monstro de frieza e crueldade que iniciará, involuntariamente, uma longa corrente de ódio.

No dia em que Yuichi se desloca para a capital na esperança de reencontrar Yoshino, essa deixa o pendurado e prefere seguir o desinteressado playboy. Humilhado, Yuichi arranca o seu veículo e percorre as estradas enraivecido: No dia seguinte Yoshino é encontrada morta junto a berma da estrada.
 Enquanto tudo aponta para a culpabilidade de Yuichi, o jovem conhece através da internet uma nova rapariga, a tímida e pura Magome. Próxima vitima ou nova história de amor? A incerteza predomina sobre a origem do culpado.

Villain é um filme de “personagens”. Um filme carregado pela emoção de cada individualidade que através do sofrimento, amor ou desprezo, colidem os uns contra os outros desencadeado uma corrente de acontecimentos trágicos. O filme questiona os conceitos do bem e do mal colocando-os em paralelo com os sentimentos do amor e do ódio, demonstrado que a línea que separa os dois é estreita. Essa abordagem ao polémico “crime passional” é tão corajosa como perturbadora… Por vezes ingénua e por vezes sublime.

Desde a dignidade dos idosos paralisados pelo luto até as ambições sentimentais de uma juventude obcecada pela outra metade de um amor não correspondido, tudo aqui impressiona pelo sublime. O “Mal” surge como um elemento contagioso onde a dependência amorosa de um é utilizada para aliviar as frustrações sádicas de outro. No topo dessa corrente reside o homem sem coração, aquele que vive na sombra do seu egoísmo.

Por outro lado o filme estabelece o contraste ao apresentar uma história de amor passional entre dois seres que se encontrão demasiado tarde. Essa segunda dimensão do filme é infelizmente uma das suas fraquezas por ser excessivamente idealista e ingénua, por vezes até de forma indecente.  

O elenco faz aqui um trabalho fantástico especialmente na parte dos familiares. Akira Emoto no papel do pai devorado pela perda da filha e Kirin Kiki que procura desesperadamente salvar o seu neto e sobreviver ao olhar cruel da opinião pública, são comovedores de realismo e nobreza até ao ponto de roubar o protagonismo aos actores principais. Uma visão que nos faz recordar em muitos aspectos o excelente “Mother” de Joon Ho Bong.

O realizador está também de parabéns pela mestria dos planos que conseguem mais do que uma vez surpreender e fascinar pelo seu poder artístico. Esse lirismo visual é completado pelo magnífico tema principal da banda sonora composto por Joe Hisaishi.

No que se refere aos aspectos menos positivos, podemos destacar algumas fraquezas na relação entre Yuichi e Magome que acabam por estender demasiado filme (2h20). O realizador acumula as oportunidades de “finais” e parece não conseguir abandonar a sua obra o que resulta numa conclusão amenizada pelas vagas sucessivas de clímaxes emocionais.  

Tudo isso não impede o filme de atingir a excelência e de gratificar o espectador com a pele de galinha que só os grandes filmes conseguem transmitir. Há aqui Alma, há aqui Arte: Tudo aquilo que procuramos numa experiência de Cinema.  

Nota: 5/6

Excepcionalmente não colocarei aqui nenhum trailer por este ser um autentico "spoilfest" (revela demasiadas coisa). Podem consolar-se com o fantastico tema principal.
 

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