terça-feira, 27 de setembro de 2011

Moon


Realizador: Duncan Jones
País: Britânico  
Ano: 2009
Elenco: Sam Rockwell, Kevin Spacey, Dominique McElligott, Robin Chalk, Matt Berry 

Falar de Moon sem revelar demasiado sobre o seu conteúdo é tarefa difícil. Poderia muito simplesmente dizer que é recomendável a qualquer fã de ciência ficção filosófica mas tentarei aqui ser o suficientemente vago para preservar o filme, e suficientemente explicito para transmitir a minha opinião sobre o mesmo.
Moon é o primeiro filme do realizador Duncan Jones. Apesar do seu destaque em diversos festivais de ciência ficção, o filme nunca chegou a brilhar no box office ou até chegar sequer às salas de cinema. Moon é uma iguaria que se aprecia egoistamente em DVD como uma pérola encontrada no meio dos filmes mais recentes do Steven Seagal ou Van Damme. A qualidade é porém de outro planeta para não dizer lua.

Num futuro indefinido os problemas energéticos da humanidade desapareceram após a descoberta de uma fonte de energia na lua. Essa nova matéria abundante e eficiente é explorada por uma multi-nacional Coreana chamada Sarang. Através de uma base espacial e de diversas máquinas escavadoras a empresa transporta o precioso carburante. Sam Bell é o único humano envolvido no processo no solo lunar. Com 3 anos de contrato prestes a acabar nas próximas semanas, o homem sofre de um longo isolamento que a companhia do seu afável robô não consegue atenuar. A sua mulher está prestes a deixar-lhe e a sua filha não para de crescer longe da sua presença. Como se isto não fosse suficiente, o astronauta sofre de alucinações cada vez mais presentes. Durante uma visita de inspecção Sam sofre de uma alucinação e acaba por embater numa das escavadoras. Enquanto parecia estar condenado, o astronauta acorda na base. Um despertar que revelará ser para a verdade.

Interpretado por Sam Rockwell, a personagem principal é o centro de uma reflexão psicológica sobre o isolamento, o papel da vida humana e a sua possível instrumentalização pelas empresas através das novas tecnologias. O autêntico pesadelo emocional é por vezes de tal forma carregado que o actor e o guionista demonstram uma certa impotência na comunicação do drama. As revelações são de tal forma cruéis que essas bastariam para acabar o filme em poucos minutos. A necessidade de progressão na narrativa é no fundo o principal defeito de um filme globalmente excelente.

Há poesia em Moon. Há um discurso terrivelmente actual com o qual muitos se poderão identificar pois apesar da complexidade científica da situação essa não passa de uma versão mais absurda e violenta do sentimento de alienação tão próprio ao princípio deste Século XXI.  
O filme é longo, sofrido e fatalista. A sua homenagem evidente ao filme de Kubrick, 2001: Odisseia do Espaço, expressa-se aqui no papel contraditório da inteligência artificial GERTY “interpretada” por Kevin Spacey. A máquina que comunica emoções através de smileys é terrivelmente humana em contraste com a corporação que emprega o Sam. Como se a condição de exploração dos dois criasse uma solidariedade entre a maquina e o homem.  No final do filme Sam proclama para a máquina que os humanos não são programados ao contrário dos robôs. Uma frase ambígua que oscila entre reflexão panfletária e ironia sobre a condição humana.

Em conclusão, apesar de uma série de pequenos defeitos, Moon surge como um bom filme de ciência ficção por conseguir transmitir novos horizontes de pensamento. Não apenas pela tecnologia mas pelas consequências provenientes da mesma. É sem dúvida com filmes destes que a ciência ficção expressa o seu real potencial.

Nota: 4/5 

O que o Kermode disse sobre o Moon:

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Top 15 REM


Para comemorar o fim dos REM resolvi organizar um Top. Nada de palavreados o meu objectivo é apenas recordar os êxitos da carreira da banda organizados por uma ordem de preferências.
Enjoy!


15. So. Central Rain


14. Hollow Man


13. The great beyond


12. Drive


11. Fall on Me

10. It’s the end of the World

9. Leaving New York


8. Man on The Moon


7. Bad Day


6. Imitation of Life


5. The one I love


4. Shiny Happy People


3. Daysleeper


2. Losing my religion


1. Everybody Hurts

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

The Warring States

Realizador: Chen Jin
País: China 
Ano: 2011
Elenco: Sunhong Lei, Francis Ng, Tian Jing, Hee-seon Kim, Zige Fang, Enhe Feng, Degang Guo, Huang Haibing, Hao Hao, Yunwei He, Wu Jiang, Waise Lee, Kesheng Lei, Jingsheng Liao, Yajin Liu, Jinwu Ma, Hai Mao

O simples título extremamente genérico de “O período dos Estados combatentes” surpreende pela sua ambição. Duas horas para narrar esse período longínquo e incrivelmente denso da História da China? Resumir num filme toda a diversidade dos mitos populares e teorias históricas que se foram acumulando sobre esse período? Com cerca de mais de 200 anos de histórias e batalhas entre os seus numerosos reinados, a tarefa parecia demasiada herculeana para ser honesta.

Isto é claro antes de vermos o filme pois muito depressa nos apercebemos que este “The Warring State” não é nada mais do que uma interpretação da alegada biografia do estratega Sun Bin, aprendiz de GuiGu Zi e descendente directo do famoso Sun Zi, o escritor da “Arte da Guerra” (aquela bíblia para os sócios dos esquemas em pirâmide). Pegar numa personalidade de reduzida importância e coloca-lo como estandarte do seu período inteiro é no mínimo atrevido no máximo estupidamente ganancioso. De forma a legitimar o seu título, o filme procura fazer do Sun Bin um figura lendária e messiânica numa romantização historicamente escandalosa.

A história conta as peripécias do Sun Bin, um brilhante estratega militar surpreendentemente ingénuo e brincalhão. Reconhecido como o herdeiro da sabedoria do seu famoso mestre Gui Gu Zi, é disputado pelas duas potencias que são o Reino de Qi e o Reino de Wei. Apaixonado pela bela general Xi do Reino de Qi e fiel ao seu “irmão” militar do Reino de Wei, Sun Bin vai ver o seu pacifismo ser posto à prova pela loucura dos senhores de guerra que procuram opter o seu saber.

 O elenco conta maioritariamente com actores pouco conhecidos para além do experiente Sun Hong Lei que interpreta aqui o papel de Sun Bin e Francis Ng no papel d Pang Juan. Habituado aos papéis do bom ingénuo Sun Bin surge aqui como uma espécie de buda gansado (sem gansa) e caricato. Apesar de a personagem não beneficiar da melhor escrita sente-se uma certa preguiça por parte do Sun Hong Lei que já brilhou muitas vezes dentro deste registo. Pang Juan, irmão de formação e vilão pelas circunstâncias é sem dúvida a personagem mais interessante. Embora o cinema de Hong Kong tenha dado melhores oportunidades de expressar o seu talento, Francis Ng consegue impregnar uma certa subtileza e singularidade à sua personagem. Os outros actores fazem o seu papel convenientemente sendo que a tradicional princesa insossa, a general Xi, é interpretada com o cuidado suficientemente para a tornar suportável. Na verdade os actores são talvez o melhor que o filme tem para oferecer.

Habituado aos dramas amorosos, o realizador Chen Jin muda ao seu gosto a história original, transformando o general original numa mulher para fazer dela o ponto central de um romance trágico. Alterna a sequência dos acontecimentos assim como desfecho das personagens o que acabará certamente por exasperar os amantes da História da China.

O filme oscila entre o piroso o mais insuportável e raros momentos de apreciável sobriedade. A história original, por ser cativante, consegue transmitir um pouco da sua qualidade ao filme o que acaba por salvar o resultado final do desastre. É na execução que o “The Warring States” desinteressa e aborrece pela presença lamentável de numerosas palermices que se encontram ao longo do filme. O princípio do filme faz aqui figura de exemplo com os seus 30 minutos indigestos em todos os níveis. Alternam-se as cenas ao retalho e sem qualquer anexo. Os planos de câmara são incompreensíveis e a falta de meios tornam risíveis as batalhas de CGI e o seu nível gráfico da primeira playstation. Chen Jin não parece estar sequer interessado nas componentes marciais de um filme, que na essência, relata o duelo de dois génios da guerra. Não que isto seja algo imprescindível, mas a falta de paixão nas cenas de guerra, inevitáveis ao olhar de qualquer produtor, tornam o filme particularmente pesado. O mesmo se aplica ao humor cretino e meloso presente ao longo do filme. Mas tudo isso, nota-se, não preocupa minimamente o realizador, pois é no Drama que o filme tenta, em vão, justificar a sua existência como obra de Arte. Essa arrogância é manchada pelo fracasso da omnipresença de clichés e de efeitos que embaraçariam o maior ultra-romancista da TVI e que não conseguem desviar a atenção do espectador para aquilo que não é nada mais do que uma produção demasiado amadora para satisfazer.

A vida de Sun Bin merecia certamente melhor tratamento do que essa tentativa de fazer da personagem uma espécie de reincarnação do “Confúcio in Love”. É portanto preferível optar pela descrição do Wikipedia do que por este “The Warring States”. Pouparão tempo e ficarão melhor informados.

Nota: 2/6 

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Tekken


Realizador: Dwight H. Little
País: USA
Ano: 2010
Elenco: Jon Foo, Kelly Overton, Cary-Hiroyuki Tagawa, Ian Anthony Dale, Tamlyn Tomita, Candice Hillebrand, Luke Goss, Gary Daniels, Mircea Monroe

Resolvi dar uma pequena pausa aos filmes asiáticos visionando um filme plenamente inspirado numa arte em que os japoneses excelam: Os videojogos. Os filmes adaptados de jogos de combate não representam qualquer novidade e parecem ter-se tornado num género próprio. Filmes dos 90 como o Street Fighter do Van damme ou o Mortal Kombat do Christophe Lambert representam para muitos um prazer culpado que se aprecia por critérios muito próprios. Esses parâmetros subtis definem a diferença que separa o estatuto de filme de culto do primeiro Mortal Kombat do estatuto de bosta lendária de Mortal Kombat 2. Obviamente tal apreciação só poderá surgir numa mente juvenil altamente pervertida pelos filmes de kung-fu low budget e pelos famosos action heroes que são o Steven Seagal, Chuck Norris ou Jean Claude Van Damme. Apesar da minha pertence a esse grupo de virilistas xungas ser muito parcial, julgo entender suficientemente os códigos do género para fornecer uma opinião crítica capaz de ir para além do mau que é inerente a esse tipo de filme. Os que aguardam por um milagre podem desde já abandonar qualquer esperança, o filme é tão mau como qualquer outro filme do género.

Na altura em que a adaptação do Tekken foi anunciada ninguém parecia estar à espera dele. Se o filme tivesse visto a luz do dia 7 anos mais cedo o impacto teria sido claramente diferente mas numa altura em que a série mostrava já claros sinais de declínio e o filme do Dead or Alive tinha nos feito jurar para nunca mais, poucos foram os que se entusiasmaram pela notícia. Os próprios filmes de videojogos, gastos pelos sucessivos fracassos, são já condenados a mediocridade pela opinião pública.

O videojogo do Tekken é por sua vez um franchise bastante reconhecível para todos aqueles que viveram os tempos da primeira playstation. Grandemente inspirado pelos Virtua Fighters, o jogo revolucionou os padrões instigados pelo Street Fighter e tornou-se num mito no mundo dos videojogos. Apesar dos guiões dos jogos de luta serem habitualmente bastante maus, Tekken surpreendia pelo seu universo tanto grotesco como complexo. O dilema familiar do império Mishima só poderia ter comparação com as piores telenovelas mexicanas. Pandas guerreiros, Kangurus assassinos com luvas de boxe, lutadores Americanos com penteados que desafiam a gravidade, robôs plágios de Frankenstein, samurais mascarados como no carnaval e nativas americanas de ascendência chinesa são algumas das figuras folclóricas que animam as complexas e hilariantes aventuras do universo do “punho de ferro” (Tekken). Um material tão grotesco não poderia certamente ter acabado nas mãos dos estúdios cinematográficos por qualquer outro motivo do que o simples desejo de conseguir dinheiro fácil.

Voltando à minha introdução, resolvi expor esta adaptação aos critérios que julgo serem os principais factores de sucesso ou fracasso do género: A fidelidade ao universo, a caracterização das personagens e a qualidade dos combates.

O filme introduz um futuro apocalíptico onde os governos e os seus Estados caíram progressivamente em declínio mergulhando o mundo no caos. O poder caiu num punhal de grandes multinacionais que agem como ditaduras e fazem figura de únicas garantes da paz. A mais preponderante dessas empresas é a Tekken, uma potência comercial liderada pela família Mishima e que tem como particularidade o seu torneio anual de artes marciais, o chamado “King of Iron Fist”. Jin Kazama é por sua vez o filho único de uma mãe solteira que tenta sobreviver, como todos os jovens, a um universo hostil onde os seus conhecimentos de artes marciais são a sua melhor vantagem. O dia em que a mãe do Jin é violentamente assassinada pelos soldados do Tekken, o rapaz descobre a ligação da sua mãe ao império marcial dos Mishima e resolve integrar o torneio na esperança de a vingar.

Os mais experientes terão desde já reparado na flexibilidade com que o vocabulário da série foi aplicado. A famosa Mishima Zaibatsu é aqui intitulada pelo nome japonês do torneio enquanto a tradução faz aqui ofício de título oficial. Esse detalhe relativamente insignificante não deixa porém surgir uma primeira falha de grande importância: O conceito de Zaibatsu. O wikipedia sendo o melhor amigo dos que ainda não sabem, essa designação japonesa é importante para entender o poder do mitos desses monopólios induzidos e a sua filiação com antigas famílias samurais. Num país maioritariamente governado ao longo da sua história por uma nobreza marcial, a noção de um império económico liderado por uns malucos da porrada é certamente mais contextualizada para não dizer compreensível. Porém querer transcrever essa subtileza sem querer preservar a sua auto-derisão era certamente missão impossível. Nesse aspecto o filme safa-se razoavelmente sem porém nunca conseguir justificar a importância desmedida do torneio na liderança da população.

A fraqueza do filme nesse aspecto reside principalmente na forma como tudo é encerado no mesmo espaço e a forma como as personagens se deslocam nesse mesmo espaço de um sítio para o outro sem grandes justificações ou consequências. Os combates organizam-se numa arena modernizada à semelhança do que poderíamos esperar de um UFC futurista e pouco mais. As necessidades orçamentais terão certamente condicionado essa decisão mas não a justificam de forma alguma.
Uma imagem vale mais do que mil palavras

A caracterização das personagens é por sua vez a maior fraqueza do filme. Primeiro porque o punhal de lutadores escolhido deixa de fora muitos dos mais memoráveis e segundo porque o seu desenvolvimento limita-se à simples aparência. O desenvolvimento pessoal é praticamente inexistente. Jin é interpretado pessimamente e não transmite nem emocionalmente nem fisicamente qualquer carisma. Heihachi Mishima, tradicional filho da “meretriz”, é aqui uma espécie de Mr Myiagi que apesar dos notáveis esforços do lendário Hiroyuki Tagawa é terrivelmente debilitado pela sua caracterização patética. Quem vislumbrar a coroa de cabelo branco e as sobrancelhas desproporcionadas só poderá concluir que a equipa do filme estará próxima da cegueira. Essa incapacidade em distinguir os elementos de caracterização indispensáveis dos dispensáveis está presente em quase todas as personagens. Kazuya é aqui o perfeito oposto do seu pai por ser completamente irreconhecível em relação à sua representação no jogo.

Por outro lado, os trajes no filme não representa, nada mais do que uma farda colorida à imagem do que se faz no Wrestling. No jogo quase todos os combatentes possuem uma profissão paralela à sua actividade de lutador. Todos são animados por objectivos individuais e a sua personalidade assim como interacção são bastante singulares. Fora a Cristie Monteiro, que faz aqui o papel de love interest e primeira mulher a fazer do seu rego um decote, todas as personagens são psicologicamente semelhantes e com diálogos que não dizem nada sobre a sua personalidade. O filme do Street Fighter, apesar de o fazer de forma ridícula, conseguia pelo menos transmitir personalidades próprias a cada personagem.

Resta-nos então a questão dos combates. O que diferencia principalmente o filme adaptado de um jogo de luta com um filme de “action-heroes” tipo bloodsport reside principalmente na ausência de “perfomance”. Apesar dos movimentos dos lutadores serem de facto inspirados no jogo, nada os torna particularmente entusiasmantes tanto na encenação como no seu valor marcial. Fora o breve intervalo de capoeira do mítico Eddie as sequencias de acção são previsíveis sem nunca porém caírem no falhanço total. Tendo em conta as adaptações já existentes, o filme situa-se na média inferior. O que as fazem serem inferiores aos combates de um Mortal Kombat deve-se precisamente ao facto do cenário dos combates ser sempre o mesmo. A utilização dos elementos externos e a transição da floresta para o “inferno” na luta entre o Johnny Cage e o Scorpion no Mortal Kombat são exemplos de elementos que amplificaram a percepção positiva do combate. Essa ilusão ausente no Tekken teria permitido criar mais suspense e cortar com uma certa monotonia.

Em conclusão o filme Tekken está longe de revolucionar o nível qualitativo das adaptações de jogos de luta. Surge como um parasita fora do tempo que não destoa com as produções passadas mas que sofre da sua contemporaneidade tanto no padrão cinematográfico como na popularidade da própria licença. O filme consegue ainda assim escapar ao aborrecimento e é portanto recomendável aos fãs da saga desde que esses o façam por aquelas vias que enfadam os direitos de autor.

Nota: 2/6 




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