sexta-feira, 29 de julho de 2011

Shaolin


Realizador: Benny Chan
País: China – Hong Kong
Ano: 2011
Elenco: Andy Lau
, Nicholas Tse, Fan Bingbing, Wu Jing,Yu Shaoqun, Jackie Chan

O filme de arte marcial é sem dúvida o género mais popular do cinema asiático no ocidente. Quem não recorda a tremenda popularidade dos filmes do Bruce Lee na década de 70 assim como o percurso de outras grandes estrelas como Jackie Chan ou Jet Lee. Essa longa vaga de produção made in Hong kong aculturou progressivamente o ocidente às artes marciais e aos famosos monges budistas do templo Shaolin. Com um casting de estrelas, um realizador vedeta e um orçamento consequente tudo indicava que este seria um dos grandes blockbusters chineses do ano (e é muito provável que assim aconteça).

Existem a meu ver dois tipos de filmes de artes marciais chineses: O da China lendária e o da China “moderna” (1700-2000). Na minha opinião o primeiro género é menos interessante em termos de marcialidade por envolver demasiados “bailes aéreos” mas é mais interessante pela sua carga poética e o seu conteúdo relativamente livre de propaganda. Por outro lado o segundo género apresenta muitas vezes autênticas “perfomances” marciais associadas a um guião caricato, revisionista e xenófoba dos “brancos” e dos japoneses.

Como tal abordei o filme com a mente aberta, pronto para ver um desfile de professores universitários americanos blasfemar o Stanislavski ao declamar frases de vilões de desenho animado. Desde que o espectáculo “circense” fizesse o seu trabalho a densidade de guião seria o pequeno extra para atingir o estado de graça conseguido pelo excelente Fearless.

O filme decorra algures no período decadente dos “Senhores de Guerra” (1916-1928), um tempo em que pequenos chefes militares se disputam território e dinheiro no meio de uma população aterrorizada e faminta. Hou Jie é um desses senhores de guerra. Arrogante, cruel e sem piedade, o homem é um general talentoso que ambiciona por cada vez mais poder. Triunfando sobre um dos seus rivais, Hou Jie e o seu jovem ajudante Cao Man, executam em pleno templo Shaolin o seu adversário suplicante. Sem qualquer piedade, os dois militares humilham os monges presos pelos seus princípios de pacifismo.

Fora do contexto militar, Hou Jie é porém um marido carinhoso e um pai dedicado sendo naturalmente recebido em herói pela sua família. Sempre à procura de novo equipamento, recebe dois ocidentais (indeterminados) que lhe prometem umas metralhadoras topo de gama em troca da autorização para construir umas linhas de caminhos-de-ferro. Era sem contar com o patriotismo de Hou Jie que expulsa os estrangeiros e castiga o seu ajudante por ter sido tentado por tão vil proposta.

Por outro lado, quando Hou Jie é convidado para negociar o casamento da sua filha com o herdeiro do seu melhor amigo, o general Song, Jie resolve aproveitar a ocasião para comanditar o seu homicídio. O feitiço vira contra o feiticeiro quando o seu ajudante, frustrado por ter sido humilhado frente aos caucasianos, atraiçoa o seu superior. Conseguindo fugir in extremis da armadilha, Hou Jie chega ao templo Shaolin com a sua filha mortalmente ferida.

Como terão já percebido esta é uma história de redenção budista. Por ser uma temática interessante mas já bastante explorada o sucesso do filme dependia principalmente da sua execução (tanto de guião como marcial). Infelizmente, Benny Chan entrega aqui uma confecção bastante insossa. Se o princípio do filme é de facto conseguido em termos de narrativa, a transição do mau Hou Jie para o monge Hou Jie incomoda pela sua ingenuidade que roça o cretinismo. Apesar dos esforços visíveis de Andy Lau em transmitir credibilidade à sua personagem o seu perfil de louco sádico não se adequa de forma alguma com o seu papel de pai de família nem credibiliza a sua redenção fulgurante.
 Os monges são por sua vez bastante fracos tanto marcialmente como tridimensionalmente. Sei que é difícil induzir personalidade num monge que jurou envergar pela neutralidade emocional mas o conjunto de homens de Shaolin parecem fingir mais a sabedoria do que a encarnar. Aliás estamos bem longe da apatia emocional já que os monges se aproximam mais da postura de uma criança do que aquela de um ser iluminado pelo saber de Buda. Uma menção especial para Jackie Chan que interpreta aqui um monge anedótico tanto marcialmente como individualmente. A lenda está mais sábia (velha) e a sua participação física no filme é um exemplo disso.

Já que falamos de “perfomance” posso dizer que o filme está muito aquém daquilo que um filme desta dimensão deveria apresentar. Demasiados artifícios visuais irrealistas, coreográficas simpáticas mas sem surpresa, os monges já foram dignificados muito melhor em inúmeras ocasiões. Quando os monges não lutam, podemos contar com o antagonista principal interpretado pelo bonitão Nicholas Tse e o seu conjunto de manchus assassinos saídos do nada. O rapaz perdido em longas poses de puto emo faz o papel do vilão caricato mas sempre sexy.

Sem querer revelar nada sobre o final do filme. Fiquei de facto perplexo com a interpretação histórica de um evento parcialmente inspirado em factos verídicos. Sem querer revelar demasiado, limito-me apenas a dizer que envolve “diabos brancos”.

Apesar da sua relativa popularidade “O novo templo Shaolin” é a meu ver um blockbuster caricato e pobre em acção. Os ares da China continental parecem ter “betisado” o Benny Chan que realiza aqui um filme muito longe da qualidade das suas produções anteriores.

Nota: 3/6 

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