terça-feira, 2 de agosto de 2011

Heartbeat


Realizador: Yoon Jae Geun
País: Coreia do Sul
Ano: 2011
Elenco: Yunjin Kim, Park Hae-il, Jeong Da-hye, Park Ha-yeong, Kim Min-kyeong-I, Joo Jin-mo-I

A actriz Yunjin Kim tornou-se com o sucesso da série Lost uma espécie de Joaquim de Almeida Sul Coreana. Um exemplo de sucesso num país que coloca em grande estima tudo o que os “Americanos” representam culturalmente e que acaba por projectar para o estrelato alguém que tinha passado por uma carreira relativamente morna no seu país de origem. Heartbeat coloca essa heroína do bilinguismo em oposição com um dos rapazes do “The Host”, Hae Il Park, num braço de ferro emocional organizado por um antigo publicitário que realiza aqui o seu primeiro filme.

O filme conta a história de uma viúva endinheirada (perdoam-me o pejorativo) que luta para encontrar um dador para a sua filha que sofre de um coração frágil. Enquanto a patologia da sua pequena ganha proporções extremamente preocupantes, um taxista rufia recebe a notícia de que a sua mãe entrou em morte cerebral. Sem nunca ter tido consideração pela sua progenitora para além de a assimilar a um multibanco com pernas, o ingrato descobre que a sua fortuna era uma mentira que encobria um lucrativo transplante de órgãos. Enquanto a conceituada directora de uma escola privada inglesa (perdoam-me mais uma vez o pejorativo) descobre que a mãe do taxista é uma dadora compatível, esse muda opinião e resolver manter a mãe em “vida” depois de essa ter mexido os dedos. O filme retrata o combate desses dois obstinados que se afundam progressivamente na loucura enquanto usam de todos os meios sujos para conseguir manter em vida o seu ente querido.

Como o indica o cartaz, Heartbeat apresenta-se como uma bomba lacrimal que pretende sem qualquer vergonha colmatar a progressiva falta de água (problema ecológico) com torrentes de lágrimas. Se o filme tem por base um conceito particularmente interessante o que dizer da forma e insensatez com que Heartbeat destrói qualquer bom senso para conseguir os seus picos de histerismos emocionais?! A meu ver estamos perante uma espécie de guião de “pornografia emocional”. 
Ao seja um filme que é tão focalizado num aspecto que acaba por desleixar o resto ultrapassando alegremente os limites da racionalidade.

Da mesma forma que um picheleiro ser recebido por duas bissexuais em lingerie é a premissa altamente improvável que justifica a fornicação descarada do filme pornográfico, o guião de pornografia emocional não recua perante nada para fornecer o seu drama. Se um unicórnio cor-de-rosa salvar um povo fantasista é algo relativamente tolerável num filme como as Crónicas de Narnia, o que teríamos dito se tal criatura tivesse salvado o povo judeu na Lista de Schindler? Essa hipérbole caracteriza-se em Heartbeat pela forma como o tema do tráfego de órgãos, a organização dos serviços de saúde, da polícia e alguns aspectos sociológicos são chacinados pelas necessidades de um Frankenstein da dramaturgia. Lamentamos muito mas a emoção que envolve temas sérios não beneficia do estatuto de imunidade de uma erecção pornograficamente induzida (conhecida no cinema convencional como táctica Megan Fox).

Por outro lado, Heartbeat não deixa de ser um bom porno emocional no sentido em que os actores se torturam em êxtases de sofrimento que costumam curar-se com prémios de festivais. Tendo em conta a frieza de interpretação de Yunjin Kim em Lost muitos ficarão surpreendidos por ver a gueixa da ilha perder-se em tormentas de pathos dignas da Senhora das Dores. 
Nesse duelo dos actores dramaturgos Hae Il Park (o taxista) vence sem dificuldade pela subtileza da sua impressão que se deve também em parte pelo lado menos unidimensional da sua personagem. 
Enquanto o espectador tenta digerir a baboseira das mecânicas somos apanhados de surpresa pela qualidade dos conflitos violentos que envolvem as duas personagens principais. Já não assistia a tal montanha russa desde o District 9 (guião de filme pornográfico de esquerda).    

Nota: 3/6

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