terça-feira, 23 de agosto de 2011

Gothic & Lolita Psycho




Realizador: Gô Ohara
País: Japão
Ano: 2010
Elenco: Rina Akiyama, Misaki Momose, Asami, Fumie Nakajima, Ruito Aoyagi, Yukihide Benii, Satoshi Hakuzen, Masahiro Okamoto, Yurei Yanagi

Quando o melhor traseiro japonês de 2007 (título oficial) encontrou o caminho do “director artístico” (coreógrafo de lutas) de Onechanbara e do videojogo Devil May Cry 3 o arquipélago japonês escavou mais profundamente o buraco cultural da sua pop culture mais rasga e cretina. Como já referi em críticas anteriores sofro na verdade de um grande preconceito perante as produções nipónicas que se situam algures entre o “live-action” e o gore série Z. Isso não quer dizer porém que sou incapaz de apreciar a loucura particular que se tornou o produto de exportação numero 1 dos nipónicos, antes pelo contrário, é precisamente por gostar dessa faceta que as caricaturas baratas e gananciosas surgem-me como totalmente desprezáveis. Como se em perda de inspiração o japonês não soubesse produzir mais do que a visão disturbada de uma cultura que ele próprio já não entende e tenta imitar por recursos patéticos.

Gothic & (será o “&” pertinente?) Lolita Psycho é o segundo filme de Go Ohara após o catastrófico mas sincero Geisha vs Ninjas. Tem como protagonista a idol (modelo apreciada para além do saudável) Rina Akiyama que interpreta aqui outra figura do folclore japonês: uma Gothic Lolita. Para os não familiarizados - os familiarizados terão que desculpar a minha apresentação breve logo incorrecta - o termo designa a casta urbana que adoptou como moda uma versão “atomizada” das tradicionais bonecas vitorianas. Um movimento que, diga-se de passagem, anda em forte perda de velocidade mas que pelo efeito jet-lag tem sido bastante promovido pelas novas adeptas do Oeste na secção bizarra da comunicação social. Apesar do cálculo idiota desta espécie de sandes XXL preparada para um guloso de Kakoi (fixe em Japonês) sabemos que o conceito tem trazido produções de série B engraçadas tais como Tokyo Gore police ou Robotgeisha. A linha complexa que separa a excelência de um grind movie deve-se acima de tudo a qualidade dos seus diálogos, a originalidade do seu universo e ao profundo sentido de espectáculo que faz do “non-sense” algo entusiasmante e coeso no seu próprio contexto.  

O guião conta a história de uma rapariga que, pelo filme, vivia feliz num apartamento de branco integral com os seus pais carinhosos. No dia dos seus anos eis que surge um conjunto de assassinos encapuçados, bem decididos em estragar a festa, e que assassinam violentamente a mãe e deixam o pai tetraplégico. Anos mais tarde a figura paterna converte-se a versão “Van Hellsing” do Cristianismo e resolve com a sua filha vingar-se dos 5 assassinos. Sem saber bem como, Yuki, a filha do casal mudou o visual e tornou-se numa maquina de matar especialista do guarda-sol rococó com lamina afiada. O filme conta a história desses 5 combates à maneira de um beat-them-all (videojogo).

Para todas as componentes de Gothic & Lolita Psycho surgem referencias de nomes e obras que conseguiram fazer aquilo que o filme falha redondamente. A máfia gore do inicio do filme relembram o Ichi the Killer, a sucessão dos combates relembram o Scott Pilgrim VS the World, a dimensão vingativa relembram o Kill Bill, o “gore xunga” relembram o Tokyo Gore Police… Tantas referencias que surgem como os bons exemplos dos maus exemplos compilados no filme.  Fora algumas boas ideias no início todo o resto desaponta e entedia tanto em termos de ambiente como nos combates. As coreografias tornam-se depressa pouco diferentes de qualquer “sentai” (género dos power rangers). As tentativas de humor são pesadas e servidas por um painel de indivíduos que brincam aos actores e dos quais a actriz pornográfica Asami (Machine gun girl) faz o melhor trabalho o que diz muito sobre o nível global do elenco. Rina Akiyama é transparente na sua interpretação à semelhança do Arnold Schwarzenegger dos primeiros dias: Queremos o corpo! Fica calada e mono expressiva o teu corpo fará o resto! Uma estratégia que o realizador terá certamente aprendido na rodagem do péssimo Oneechanbara.

Essa transparência é de facto um fenómeno que atinge a produção por inteira devida a total falta de desenvolvimento das personagens. Quem são eles? Que propósito defende a organização? Quem formou a Gothic Lolita? Quem eram os seus pais? Que defende ela? Qual é o papel dos demónios nessa equação? Quem é o conjunto de estrangeiros bosozoku? O que raio era aquele bar/discoteca/casino/fight club/club SM homossexual do princípio do filme?... Tantas perguntas para um filme que se quer um “no brainer” humorístico e que acaba por não ser bom nem na seriedade nem na paródia pois focaliza-se apenas na “porrada” sem deixar espaço para nada mais.

Não poderia ter melhor veredicto do que a profunda e incontrolável sonolência que me caiu em cima passado 30 minutos desta bosta que é Gothic & Lolita Psycho. Os amadores de filmes de série B podem poupar os seus minutos para outros filmes pois este filme não é nada mais que um mau sentai infantil gore. Quanto as Gothic Lolitas essa poderão muito bem dispensar o filme pois a heroína anda com a mesma roupa o filme todo. Uma heresia para um filme de "Lolitas". 

Nota: 1/6   

 

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